Sistemas de cotas raciais para concursos. Quem deve prevalecer no final?

Nos primórdios das artes cênicas, não era permitido às mulheres atuarem, no entanto, para encarnar personagens femininas os gregos inventaram uma máscara que, levada a frente da face do ator, tinha uma embocadura que tornava o som de sua voz agudo. Daí a expressão per son ou, som diferente de onde se origina o radical persona. Cada um de nós possui um acervo de máscaras que, em regra, utilizamos de acordo com as nossas conveniências.

Essas máscaras, até hoje, uma sorrindo e a outra chorando, constituem o símbolo das artes cênicas.

Somos, por definição, multifacetários e, de acordo com o nosso interesse e com a ocasião, nos servimos de uma de nossas personas.

Queiramos ou não, ao longo do dia, trocamos várias vezes de máscaras no palco da vida.

Assim acontece comigo. Existe um Sylvio pai, outro marido, outro editor, outro professor, outro dono de curso preparatório, outro autor e assim por diante.

Não obstante eu possua muitas máscaras, a minha essência é única, caso contrário seria eu um esquizofrênico ou um psicopata.

No fim, qual Sylvio deve prevalecer?

O Sylvio dono de curso preparatório para quem o sistema de cotas em concursos é altamente prejudicial sob o ponto de vista mercadológico?

O Sylvio branco?

O Sylvio editor de concursos de uma Editora multinacional que só vai aumentar as vendas de seus produtos com esse Decreto?

O Sylvio professor de direito constitucional que não consegue enxergar inconstitucionalidade alguma neste decreto estadual?

O Sylvio político que percebe o caráter oportunístico e demagógico deste Decreto?

Desculpem, mas no final, prevalece a minha essência que, como já disse, é única e incorruptível. Sob pena de perder a coerência e a sanidade.

Prevalece o Sylvio que vê com os olhos de ver a discriminação racial que campeia neste país e que, não obstante, participa dela. O Sylvio autocrítico social. Aquele que conta nos dedos de uma das mãos os juízes negros que conhece. Aquele que não vê na escola de seus filhos alunos negros. Aquele que sabe são poucos os candidatos negros ou índios com chance real de concorrer em pé de igualdade com os brancos, sobretudo em concursos que exigem nível superior.

Esse Sylvio deve prevalecer, caso contrário passarei de ator humano à marionete das minhas conveniências.

Prof. Sylvio Motta

Disponível em: euvoupassar.com.br