Por quê? Por que... Porque. É o porque
É muito interessante como
as estruturas linguísticas sempre trazem surpresas para as pessoas. Quando falo
que o relativo "que" é o sujeito da oração (assunto de que vamos
tratar no próximo artigo), por exemplo, sempre vejo muitos rostos espantados,
parece até uma ofensa, chega a ser engraçado!
Isso pode realmente parecer complexo, mas o que realmente faz
com que todos fiquem acabrunhados são as questões mais simples que, apesar de
muito mencionadas e estudadas, sempre trazem uma certa dificuldade, como é o
caso do emprego dos "porquês". Por isso, decidi fazer aos caros
leitores um roteiro de raciocínio que facilite esse estudo.
De fato, seu emprego não é tão complicado, mas como o
problema está no som, que é o mesmo para todos eles, ainda que as funções sejam
completamente diferentes, é melhor percebermos a diferença que a grafia
assumirá, analisando o contexto, a partir de raciocínios simplificados.
Já estou fazendo um alerta ao raciocínio simplificado, pois o
roteiro de aplicação que darei será nesse nível, justamente porque o ponto aqui
é a simplicidade da aplicação. Assimilado esse roteiro, aprofundar-se no
assunto será uma consequência natural. Então, vamos ao que interessa.
O roteiro que ora apresento deve ser seguido nesta ordem para
análise do emprego das quatro formas: porquê,
por quê, porque e por que.
1º
passo) porquê - inicialmente,
atente à palavra que foi empregada antes do "porquê". Se for um
artigo, ou um pronome, ou um numeral, então sua grafia será "porquê",
independentemente de sua posição na frase (começo, meio ou fim):
ü De
sua amargura, eu não sei o porquê.
ü Dê-me
dois porquês para não
comparecer à reunião.
ü Este porquê é
que me preocupa.
2º
passo) por quê - agora,
não está precedido de palavra determinante, está seguido de sinal de
pontuação, no final da frase, então, pessoal, é caso de separação, e sua forma
será "por quê":
ü Ele
não veio, por quê?
ü O
administrador da empresa não veio e eu não sei por quê.
ü Ela
disse não ao noivo no altar, ninguém sabe por
quê; por isso ficamos todos estupefatos.
ü Também
não sei; não sei por quê... talvez tenha sido por falta de amor...
3º
passo) porque - se
não estiver no final da frase nem precedido de palavra determinante, ele perde
o acento, fica "porque", e passa a ser sinônimo de "pois",
dando justificativas ou respostas:
ü Ela
foi ao médico, porque (=pois) eu vi
uma receita médica com o nome dela.
ü Por
que você faltou? Porque (=pois) estava cansado.
4º
passo) por que - não está no final da frase nem precedido
de palavra determinante, mas não é sinônimo de "pois", então é caso
de separação outra vez:
ü Este
é a causa por que (? pois) lutamos.
ü Não
entendemos por que (? pois) não ganhamos a causa.
ü Por que (?
pois) não ganhamos a causa? Nós não
entendemos!
Agora,
para quem quer aprofundar um pouco o assunto que acabamos de ver, apresento as
informações necessárias para isso:
1º passo) O
"porquê" é um substantivo sempre acompanhado de palavra determinante,
cujo sentido é "motivo", "razão".
2º passo) O
"quê" é um pronome substantivado, que por coincidência aparece
preposicionado por "por", como poderia ser também preposicionado por
"para" e outras preposições: Ele veio aqui e eu não sei para quê.
3º passo)
"Porque" é uma conjunção explicativa ou causal, nos exemplos acima:
estar cansado é motivo (causa) para faltar, e ter visto a receita médica com o
nome da pessoa justifica a afirmativa anterior de que ela havia ido ao médico.
4º passo)
Os três exemplos dados revelam duas funções diferentes da expressão "por
que":
a) No primeiro, há a
preposição "por" (exigida pela regência do verbo lutar) e o pronome
relativo "que"; a expressão equivale à "pela qual", pois
refere-se à causa:
Este
é a causa pela qual lutamos.
b) No segundo e no
terceiro, sua função é advérbio interrogativo de causa, formado pela preposição
"por" e pelo pronome interrogativo "que", por isso ele será
empregado nas perguntas indiretas ou diretas. Para certificar-se desse advérbio
interrogativo, pode-se imaginar a palavra "motivo" subentendida à sua
frente:
Não entendemos por que (motivo) não ganhamos a causa.
Por
que (motivo) não ganhamos a causa? Nós não entendemos!
Eu
realmente espero que este breve roteiro os auxilie a ter um bom desempenho com
o emprego dos porquês daqui para frente. Semana que vem, falaremos sobre o
relativo "que".
Fonte: euvoupassar.com.br
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